Neurose uma histoia verdadeira



Ela o esperou pacientemente por meses. Esperou que ele voltasse. Por tanto tempo aguardou a sua chegada, por tantas vezes encontrou-se perdida e quis desistir da longa espera. Porém, sempre continha-se. Pensava, indagava-se, não sabia porque ele tardava em voltar para os seus braços, se os da outra não eram tão aconchegantes. Só que aos poucos ela percebia que foi a outra quem o acolheu quando os seus braços negaram-lhe um consolo, foi a outra quem o beijou, acariciou, foi ela quem sempre esteve ali. Por isso ele tardava tanto, mesmo dizendo que a amava, que sempre a amou, e que voltaria, não tinha coragem para deixar quem sempre o acolheu, não trocaria a certeza pela insegurança. Era isso que ela imaginava. Entretanto, mesmo que gritasse isso para ele, mesmo que dissesse que entendia o que ele queria, ainda que mostrasse para ele que não o esperaria mais, ele permaneceria longe, e assim, talvez, mais longe. Ela simplesmente não aceitava, nunca perdera, não entendia o significado de impossível, ou inalcansável, não porque lutava esperançosamente por seus sonhos, mas apenas por não aceitar as perdas, por não conviver bem com elas, encarar ele como um amor platônico, um amor proibido, ou um caso perdido, não estava em seus planos, ela pretendia usar de todas as artimanhas possíveis, afinal, após tanta espera, não lhes daria a chance de viver felizes para sempre, até porque para ela, não poderiam. Era a ela que ele amava, nunca seria feliz com a outra, jamais. Tudo deveria ser pensado e repensado, deveria haver um planejamento prévio. Como passar segurança, como demonstrar um amor tão grande que sobreviveria à tudo? Só assim ele voltaria, apenas desta forma ele deixaria à outra e voltaria para ela.
Jurou para si mesma que conseguiria, não se importava mais com o sentimento que julgou haver desde o início, anelava apenas consegui-lo, de qualquer forma. Ele era um tolo ao pensar que a enganaria, que faria juras de amor e a teria em suas mãos, coitado. Se bem que valia tentar, pois um dia ele esteve nas mãos dela, e como dizem, um dia é da caça, o outro do caçador. Mas, ela continuava sensível, não às palavras dele, não às juras e promessas, mas aos detalhes, tais quais tornavam-na cada dia mais atenta à tudo o que lhe diziam, ela não se dava ao luxo de errar, a essa altura do campeonato era tolice demais.
Não pretendia manipulá-lo, queria apenas relembrar-lhe que um dia ele a amou, e ela, não correspondeu, mas hoje quis recebê-lo, tentou amá-lo, e ele, quis apenas vingança, - ao menos foi assim que ela entendeu. Não suportava mais de forma alguma ficar entregue à uma espera, e por alguém que deveria estar rendido aos seus pés. Resolveu ter-lhe em suas mãos, mas sabia que ele também havia adquirido experiência. Pensou. Decretou-lhe silêncio por dias. Depois, apareceu usando de toda a sua persuasão, falou que não esperaria por sequer um dia mais, que havia decidido, que não perderia mais o seu tempo esperando por alguém que ainda não tinha certeza dos próprios sentimentos. Sabia que assim o deixaria balanceado, teve a intenção de aparentar impaciência, ciúme. O fez se sentir valorizado, disputado, desejado, amado. Novamente o tinha. Obteve a resposta que tanto esperava, ele jurou deixar a outra, jurou que ela seria a única, gritou que a amava, beijou-a. Ela já não sentia nada.
Ao chegar em casa apenas quis entender o porque de tudo, o porque de ter agido assim, de o ter iludido mais uma vez, talvez ele não quisesse sofrer novamente, apenas isso, por isso não deixara a outra tão rapidamente, ela era mesmo uma perdida, em si mesma e em suas neuroses. Minutos após sua conclusão, ligou-o, sentia o palpitar do seu coração através da sua voz, era patético. Concentrou-se. Parou de analisar tudo tão milimetricamente, parou de procurar em quem lhe amava, defeitos, tentou não pensar nele como um idiota, e falou. Admitiu que não o amava, que nunca seria capaz de fazê-lo, alegou que um sentimento tão nobre não poderia pertencer-lhe, o mandou procurar alguém que ao menos fosse pouco instável, pouco temperamental, e que por favor não fosse neurótico, pois à alguém assim não haveria amor que sobrevivesse.
Ele não acreditava, xingou-a tanto que lhe faltaram os adjetivos, desabafou com tom de desprezo e decepção tudo o que havia passado, porém interrompeu a si mesmo e disse que ela não era digna sequer de ouvi-lo, desejou-lhe apenas uma coisa, que um dia ela pudesse amar, e não ser correspondida, assim ela poderia sentir o prazer de sentir algo tão lindo, e ao mesmo tempo conviveria com a dor de nunca tê-lo vivido, de um dia ter-se recusado a vivê-lo, e de tê-lo recusado à alguém que o respirava de forma tão firme que chegava a ser insana. Agora, simplesmente, não poderia vivê-lo, assim como um dia não o proporcionou a alguém.


puts é isso....Ufa... Roberta oliveira

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